No primeiro contato ao telefone Marilene
foi extremamente gentil, e nos falamos bastante varias vezes, com a intenção de trazer Louis Plessier a
Londrina para fazer apresentações com o trio “Poucas & Boas” que foi meu
primeiro trabalho no universo manouche, a formação seria eu, baixo acústico, bateria e Louis Plessier como
convidado.
Como todos
sabemos as condições para se fazer musica instrumental no Brasil não são muito
favoráveis... e depois de muita luta
para conseguir recursos para estrutura mínima para viagem, hospedagem, cache e
etc... confirmado Louis Plessier tocaria
em Londrina conosco.
Em julho de 2011 Louis Plessier faz 2 apresentações em Londrina, “Louis
Plessier & Poucas e Boas trio”.
O primeiro
contato com Louis realmente foi algo mágico, surreal, em pleno interior do Paraná liderado pelos
sons impostos pela mídia ..na sala de minha casa, um guitarrista francês que tinha sido casado com
a sobrinha de Django Reinhardt, tio de Bireli Lagrene e com algum parentesco da
maioria dos músicos dos ciganos Manouche. Nunca
tinha visto um guitarrista tocar realmente o verdadeiro Manouche só via
internet, realmente parecia um sonho, ou
algo do tipo.Estava estudando o estilo intensamente a cerca de 2 anos, apesar
de me dedicar, ter uma guitarra manouche...não sabia se estava realmente no
caminho certo. Louis começou a tocar e naquele momento fui transportado a 100
anos atrás... de sua guitarra manouche saiam sons que jamais tinha
escutado...um som impar, especial, totalmente diferente de qualquer guitarrista.
De imediato como qualquer outro músico que estudou um pouco ..comecei a querer
achar as relações em campos harmônicos, escalas , etc e etc.. pouca coisa
encontrei.. os formações dos acordes e resoluções eram diferentes... pensei e agora..!?
Começamos a tocar juntos ...e rapidamente depois de alguns minutos tocando Louis disse que eu tocava como um Manouche.... !!!! Pensei “ufa... apesar do pouco que sei estou no caminho certo”
Em poucas horas já éramos como amigos de décadas, não somente eu...mas também meus filhos, minha esposa e esposa do Louis, simpatia e carinho mutuo e imediato entre todos. Passamos três dias juntos regados a muita música, garrafas de vinho e comidas ... como manda a tradição cigana.
Começamos a tocar juntos ...e rapidamente depois de alguns minutos tocando Louis disse que eu tocava como um Manouche.... !!!! Pensei “ufa... apesar do pouco que sei estou no caminho certo”
Em poucas horas já éramos como amigos de décadas, não somente eu...mas também meus filhos, minha esposa e esposa do Louis, simpatia e carinho mutuo e imediato entre todos. Passamos três dias juntos regados a muita música, garrafas de vinho e comidas ... como manda a tradição cigana.
Fizemos as duas
apresentações, gravamos programas na radio, nos conhecemos, reunimos as
famílias, trocamos muitos sons, enfim missão comprida. Louis e Marilene vão
embora e deixam saudades em casa e em todos que os conheceram naquela ocasião.
Continuamos nos
falando por diversas vezes até o final do ano de 2011, quando numa delas
Marilene diz que Louis queria a tocar comigo, e fazer um trabalho serio juntos.
E que ainda se mudariam para Londrina para podermos fazer esse encontro de Sons
e energias musicais fluírem.
No dia a dia de
nossa convivência pude conhecer e saber sobre a verdadeira cultura manouche, e
também como pensam e vivem em relação ao universo, dos detalhes mais simples ao
mais rebuscados. Louis me contava historias que tinha vivido com Tchavolo
Schmitt, Raphael Fays, Gertha Weiss e diversos outros grandes do universo
manouche... muitos nunca tinha ouvido falar... escutei muitas historias de
Django que eram particularidades da família.
Descobri que
muitos manouches (dos antigos a maioria) “não sabem” nada de nota, escala, campo
harmônico, nada ... Louis era um desses... tocava todos acordes e escalas
...mas o nome?escala? nada disso... a musica em primeiro lugar tem que passar
o sentimento, contar uma historia. Sempre me dizia que quando tocava não era
ele e sim algo que vinha do céu... da natureza e de um criador maior.
Cada dia ficava
mais impressionado com aquele musico e ser humano gentil, diversas vezes semanalmente
nos reuníamos minha família, Louis e Marilene, tocávamos e comemorávamos a vida
em todos encontros.
Louis era uma pessoa
extremamente inteligente e sensível, não suportava burrice e barulhos....ahh, os
barulhos os incomodavam profundamente me dizia que era como se enfiassem
agulhas em seus ouvidos.
Tchavolo Schmitt & Louis Plessier |
Dizia que para
tocarmos juntos tínhamos que nos conhecer de verdade e tocamos juntos o máximo que
pudermos, e isso era o necessário para tocarmos em qualquer lugar pra qualquer
publico. Escutei muitas historias de suas andanças tocando com seu cunhado
Gertha Weiss, segundo Louis um dos melhores guitarristas rítmico que já habitou
esse planeta, Gertha é um dos músicos
que aparece ao lado de Tchavolo Schmitt no lendário filme documentário “Latcho Drom” de Tony Gatlif.
Com o tempo aprendi e pude perceber o que queria me dizer, e a cerca de 1 ano e meio tocávamos “direto” como ele dizia... ou seja improvisação 100% ... temas inéditos sem combinar tom, ritmo, forma... sem combinar nada, nada mesmo, apenas começávamos a tocar a íamos construindo, criando, compondo sem preceitos ou amarras, apenas fazendo musica, musica que segundo Louis era a nossa verdade.
Com o tempo aprendi e pude perceber o que queria me dizer, e a cerca de 1 ano e meio tocávamos “direto” como ele dizia... ou seja improvisação 100% ... temas inéditos sem combinar tom, ritmo, forma... sem combinar nada, nada mesmo, apenas começávamos a tocar a íamos construindo, criando, compondo sem preceitos ou amarras, apenas fazendo musica, musica que segundo Louis era a nossa verdade.
Louis valorizava a
criação e a composição, uma vez eu tirando frases e frases de Django
Reinhadt...me disse que não deveria dedicar meu tempo a isso, e sim criar
minhas frases e meus caminhos. “Xerox não adianta nada, na frança existe milhares de "Djangos" ...mas Django só existe um” me dizia, nem mesmo os
temas clássicos ele gostava de tocar em apresentações, queria fazer sempre a
música de verdade, improvisada, feita naquele momento.
Viajamos com o show Drom Manouche por algumas cidades do
estado de São Paulo e de Santa Catarina, fizemos algumas apresentações no Paraná
em 2012.
Em 2013, decidimos dar um reforço no trabalho e nos tornamos
Droms Manouche agora um quarteto com violino e contrabaixo acústico. O momento
de criação e inspiração estavam intensos, gravamos o álbum DROMS MANOUCHE, com
11 composições próprias, cinco delas com Louis solo com sua guitarra manouche,
amplificada com captador Stimer, com aquele mesmo timbre e melancolia que
Django usou na fase pós guerra.
O álbum foi muito bem aceito tanto aqui no Brasil como na
comunidade Manouche na França onde Louis foi pessoalmente levar o álbum em
julho de 2013. Muitas datas de apresentações estavam confirmadas para o
lançamento do CD.
Na volta ao Brasil percebemos que algo estava errado na sua
saúde, Louis apaixonado por vinhos e bons paladares não estava comendo quase
nada, descobriu um câncer no estomago e começou uma luta pela vida.
Devido a cirurgias e tratamentos adiamos nossa turnê de
lançamento. Em casa continuamos compondo, tocando, sempre planejando divulgar
nossa música para todos os cantos.
Tentando de todas as
formas melhoras na saúde, a vida do mestre Louis, foi se esvaindo sem podermos
fazer nada. Muitos temas em agradecimento a vida, em homenagem a parentes e
amigos foram tocadas com inspiração e amor até os últimos dias, as melodias e
improvisações tiveram seu ápice de inspiração e execução técnica, Louis tocava
com todo coração e vontade...como se pudesse transformar a musica em elementos
de cura.
No dia 21 de março de 2014, depois de travar uma batalha com a
doença Louis Plessier nos deixou fisicamente e partiu para outro plano, feito
de sons, harmonia e luz.
Agradeço imensamente aos caminhos da musica, do destino,
Deus, enfim, as energias que colocaram
em meu caminho estre mestre da guitarra Manouche, Louis Plessier e sua esposa
Marilene.
Com Louis pude ver outra maneira de ver, ouvir, fazer
música... como ele sempre me dizia: “Fazer musica é como pintar um quadro,
livre, leve e se for sem retoques
melhor, musica é como pintura é arte, vai fluindo”
dizia também:
“Musica é liberdade, temos que ser livres para tocar a nossa
musica... aquela que vem da alma...do coração no momento”
O aprendizado e lições que tive com Louis é a base para minha concepção de tocar, sentir e compreender o que realmente é um "manouche". Em postagens constantes e futuras a intenção é transmitir os ensinamentos em forma de sons,textos, videos e lembranças do meu querido mestre... Luz mom ami!!
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